21/05/2007

Ornitorrinco falante

Do alto do palanque, o ornitorrinco esbraveja.

Seus súditos hipnotizados,
de bocas caídas e engessadas,
recebem o fel preparado,
de um livro deturpado.

Seu corpo quente não tem penas,
pena alguma ele tem.
Tem bico de pato travestido,
pois com seu corpo fingido,
de bom agrado cospe falando,
do pulpito chove cuspe ácido,
lavando a quem admira
com a face vitrificada virada pra cima.

Bota ovo como pato.
Seu filhotes são iguais.
Trabalha no fundo da poça profunda
juntando excrementos de quem abunda.
Os dejetos são sagrados, e usados como cordão
para prender os infelizes sem visão.

Pobre do lodo que é degrado
no fundo do estômago do ornitorrinco.
Pois de bom agrado, eles preferem se encolher,
a esticar com medo de morrer.

Um comentário:

anja disse...

Seu ornitorrinco me surpreendeu.
:)
O fim intrigante tb.

Há algo de bem profundo nele.
Preferrm se encolher.
Gostei!
:))